Capítulo 1.
Pedro Botelho é
um nordestino que como tantos outros veio buscar a sobrevivência em São Paulo.
Não é que, como tantas outras, essa história deu certo. O homem acertou na roda
da fortuna. Virou um grande empresário. Ganhou muito dinheiro. Comprou um carrão
e colocou um sorriso novo no rosto.
Um filantropo.
Um homem de bem. Muito bem quisto pela comunidade. Um "self made man"
feito no Brasil. Cabra arretado. Com seu esforço e suor fez sua fortuna. Ralou
bastante para conquistar sua fatia de mercado, onde sem dúvida era o melhor.
Para tratar de negócios da alma.
Não que fosse
uma pessoa espiritualizada, tinha sua religião, mas os negócios do qual tratava
eram sobre os defuntos. Ele vendia caixões para defuntos serem nele, os
caixões, enterrados. Um bom investimento para os negócios. Como Pedro Botelho
gostava de dizer ao estar com seu cliente potencial:
_ Tenho aqui
para você um negócio de outro mundo...
A pessoa, o
cliente em potencial, em questão, seja lá qual fosse, origem , etnia, sexo,
raça, time de futebol, enfim, no mínimo, arregalava os olhos para o inusitado
do seu pronunciamento.
_ Negócio do
outro mundo? ...Como assim? Negócio do outro mundo? - a pessoa devia ficar com
isso na cabeça.
_ Sim, meu caro
- continuava o falante Pedro - um investimento para toda a eternidade!
Mal sabia a
pessoa que aquela era a cena de entrada que o cara de pau do Pedro
Botelhoutiiliza como recurso para quebrar o gelo. Depois de relativizar a
situação, já com a torcida ganha, aliás, sua especialidade. Então, com um
sorriso no rosto, anunciava que trabalhava como vendedor de funerária.
O terno de Pedro
Botelho o deixava com uma aparência de um cara importante, tão importante
quanto achava que fosse. A peça, o terno, era bem cortado e lhe caia bem.
Aparentava ser um cara esbelto. A gravata italiana se destacava e revelava todo
o requinte de um homem de negócios sofisticado. O sorriso, que de tão alegre
poderia ser interpretado como sinismo.
Então, como um
apresentador de televisão, olha para o lado, como se estivesse sendo seguido
por uma câmera, como se estivesse "ao vivo" , para milhões de
telespectadores, e com toda aquela descontração e felicidade que o público
gosta. Estala os dedos e em seguida sorri e diz:
_ Venha
trabalhar conosco!
Capítulo 2.
Mas nem sempre
foi assim. Antes que isso chegasse a acontecer, alguns anos antes, a realidade
de Pedro era outra. Passou por maus momentos. Comeu o pão que o diabo amassou.
Não foi fácil. Foi espinhoso o caminho que trilhou até ser considerado, pela
Revista Business, como o "Homem do Marketing Funerário". Um dos mais
bem sucedidos empresários do ramo, proprietário da Funerária Boa Vista.
O seu pulo do
gato, como empresário, foi associar dentro de um mesmo pacote um caixão e todos
os serviços, incluindo velório com um plano de saúde privado. Isso agradou em
cheio o público alvo. Vendeu muitos caixões.
Dois anos antes,
Pedro Botelho, estava quebrado. Literalmente, na merda. Não tem um tostão no
bolso. O seu último trocado, umas moedinhas, lhe pagaram um copo de café em um
buteqim de esquina qualquer com a TV ligada. "Caixão cai de carro
funerário no meio da rua". Puta que me pariu. Só me faltava essa- foi o
que Pedro Botelho pensou.
O jornal que
passava na TV transmitia ao vivo o ocorrido. As pessoas do bar ficaram agitadas
com aquela história. Um caixão no meio da rua? Por que isso aconteceu? Pergunta
o apresentador para o repórter, que responde.
_ Estúdio? Vocês
estão me ouvindo? Mesmo sem ter uma confirmação do audio, o repórter continua.
_ Segundo o
condutor do veículo, ele, o motorista, tentou- se desviar de uma moto.
_ Foi isso
mesmo, um cara maluco, do nada - o homem parecia transtornado -
O repórter não
esperava que o motorista surtasse diante das camêras. Ficou aquela impressão no
ar. Alguém da produção pediu para editar. Corta para o estúdio. Aquele momento
de vacilo deixou a audiência inquieta, aumentando os índices. No bar, todos
falavam ao mesmo tempo.
Pedro Botelho
ficou puto de raiva. Virou as costas e foi embora. Não tinha ao certo um lugar
para ir. Os pés já estavam cansados. Estava caminhando durante toda a manhã,
embaixo do sol quente, estava chateado, era uma grande cruz a que estava
carregando, lamentava em seu íntimo.
Então, quando
passava por um ponto de ônibus, não pensou duas vezes, ao ver um banco.
Sentou-se. Esticou as pernas como se isso pudesse relaxar seu pés. Respirou
fundo e soltou o ar. Olhou para o lado,
tinha um panfleto pregada no ponto. Desempregado, há seis meses, seus olhos
logo leram: "Venha Trabalhar Conosco!"
"Grande
Oportunidade".
Aquelo leitura,
daquelas palavras, surtiram efeito, moral, na cabeça dele. Foi uma injeção de
entusiasmo no marasmo no qual se encontrava. Um alívio para o mar da angústia,
que o envolvia, volta e meia, se afogava , sendo engolido pelo desespero e a
frustração que aquilo tudo lhe causava. O desemprego era terrível. Agora,
diante seus olhos, tudo poderia ser coisa do passado. Fazia muito tempo que não
sorria, mas teve vontade. Mas, entretanto, pela falta de prática, não
conseguiu.
Ainda de cara
amarrada, meio assustado, com os olhos arregalados, após a constatação do fato,
continuou firme com sua visão voltada para o panfleto. Ligue agora. Uma grande
oportunidade ao alcance de suas mãos. Faça a ligação. O seu celular não tinha
crédito, mas fazia ligações a cobrar, foi o que fez, passou a digitar os
números. Os últimos três, foram uma sequência de seis, seis e seis.
Capítulo 3.
Pedro Botelho é
muito bem atendido. Se sente uma pessoa especial. Estava bastante carente e
aquilo amaciou seu ego tão debatido. Gostou da conversa a ponto de se
prontificar a se apresentar na empresa. No entanto, ficou tão entusiasmado, que
nem ao menos passou pela cabeça, qual seria o tipo de produto que iria vender.
Aquilo era um
detalhe e realmente não importava. O que valia a pena mesmo era a possibilidade
de descolar um trampo. Ter uma grana para pagar as contas. Era isso o que
importava naquele momento.
Na hora marcada,
estava lá, foi caminhando, durante umas duas horas, chegou a tirar a camiseta
que vestia, para não ficar muita suada, para quando se apresentasse na empresa
estivesse com uma boa aparência. Isso lhe passou pela mente. Assim mesmo, com
todos os percalços, estava contente. Havia virado uma página da sua vida.
No entanto, ao
chegar, no número da empresa, constatou que se tratava de uma funerária. Não
gostou muito do que viu.
_ Pôrra! ...que
merda é essa? - Pedro Botelho pensou: " devem estar me sacaneando, né não?
Foi um choque.
Um balde de água fria nas suas pretensões de conseguir um bom emprego depois de
seis meses de desemprego. Puta que pariu. Uma funerária. Não era bem isso que
eu imaginava; quando pensei em descolar um trabalho. Não é muito bem- pensava
consigo mesmo - o meu etilo de trampo, sabe qual é?
_ Putz, cara! -
olhou novamente para as palavras estampadas na sede da empresa, estava escrito,
em letras garrafais: Funerária.
_ Acho que vou
embora, cara, que puta latada, mano. Vazar daqui. - Era essa a sua vontade, mas
do nada, como que de repente, surgiu um funcionário, de uniforme, com um
sorriso no rosto que desarticulou todo aquele processo que havia se
desencadeado nele. A repulsa, então, se dissipou.
Pedro Botelho
acompanha essa pessoa pelas dependências da empresa. Fala sobre os benefícios
de se trabalhar em uma funerária. O salário era bom, tinha plano de saúde, vale
refeição, vale transporte, participação nos lucros da empresa, enfim, era algo
bastante atraente. Ainda mais para quem vinha de uma temporada desempregado.
Era tudo o que queria. Era tudo o que precisava. Aceita o emprego de vendedor
de funerária.
Capítulo 4.
Pedro Botelho
saiu de lá,praticamente, com o emprego na mão. Pediram para ele voltar com toda
a documentação para o efetivarem ,de fato, como um funcionário. Teria um
salário fixo e comissões. Mas, para isso teria que vender muitos caixões. Ate
então, ainda deslumbrado com a perspectiva de voltar a ser um assalariado, não
se preoucupou muito com a natureza do seu novo negócio.
Mas, todavia, não
havia como fugir, era um vendedor de funerária, agora, e teria que vender
caixões. Acontece que para vender esse produto, seria necessário que ocorresse
um óbito. Alguém teria que ter morrido. Havendo um cadáver, poderia se enterrar
e para isso era preciso comprar um caixão.
Para isso,
estava ali, vender um caixão. Mas como fazer isso? As pessoas ficavam
assustadas ao serem anunciadas a um vendedor de funerária. Devido a isso,
muitas vezes, não era atendido. As pessoas não viam com bons olhos. "Como
assim? Você quer que eu compre um caixão? Você quer que eu morra?"
Não era isso,
Deus nos livre, só precisava vender, na verdade, era uma garantia para um
futuro, não é mesmo? . Tinha que construir, mentalmente, uma argumentação, para
envolver o cliente. Assim, confabulava com seus botões: "De repente - se
imaginava conversando com um cliente - não é necessariamente para o senhor, o
caixão, mas para um parente próximo, que por ventura"...
Ao mesmo tempo,
quase que instantaneamente, sua imaginação já colocava a réplica do seu
cliente:
_ Você está
jogando uma praga na minha família? Pra você matar todo mundo e eu ter comprar
esses seus malditos caixões?
_ Não, por
favor... pelo amor de Deus, não é isso - ele mesmo se entristecia e se
apavorava com essa possibilidade. Havia certo constrangimento em oferecer um
caixão para que alguém o comprasse, logo, percebeu isso.
Não será nada
fácil concluir uma venda. Teria que tirar leite de pedra para que isso
acontecesse. Ou então passaria necessidade. Passaria fome. Dormiria em um banco
de praça e não teria nada para comer. Algo precisava ser feito. Dizem que a
necessidade é a mãe do homem. Talvez, não fosse bem assim, mas era isso o que
ocorreu. Tinha que desarmar o espírito do cliente logo na sua apresentação.
Isso mesmo.
Tinha que ter uma abordagem especial. Algo específico. Evitar o clima de medo
que aquele tema passava. Afinal, de contas, estava vendendo caixões. Teria que
adoçar suas palavras. Deixá-las mais harmoniosas para os ouvidos de seus
clientes.
Dessa forma,
ciente de seus problemas, se entregou a reflexão, colocou-se na posição do seu
cliente, e pensou um modo de reverter a situação. Logo teve um estalo, uma
sacada. Um insight. Quem precisaria usar os caixões que deveria vender? As
pessoas que partiram dessa para uma melhor. Isso mesmo. Dessa vida para algo
melhor. Algo além, do além mundo.
Então, quando
fazia suas visitas não se anunciava como um vendedor de funerária, achava que
isso atrapalhava mais que ajudava, apresentava-se bem vestido, um terninho
surrado, é verdade, mas passava a confiança e a seriedade que a vestimenta
transmitia, também , para auxiliar, possuía uma boa oratória, com isso
desarmava o espírito bélico do cliente e disparava para pegá-lo de surpresa.
_ Tenho um
produto especial para você. ...Uma coisa
de outro mundo...
Capítulo 5.
Pedro Botelho se
esforça bastante para se sair bem como um vendedor de funerária. Faz
planejamentos, arquiteta estratégias para consiguir, uma margem maior, nas vendas. Detecta problemas, tenta
resolvê-los. Tenta ser sensível com seus clientes, humano, amigo, mas não consegue
vender caixões.
"Tenho um
negócio de outro mundo". Isso desarmava o cliente, em um primeiro momento,
desfeito o susto, os olhos voltam a se olhar novamente e a negociação deve ser
feita. Nessa hora, as coisas desandam para o vendedor. Mas, então pergunta, o
cliente:
_ Por que eu
deveria comprar um caixão?
Ouvia esse
questionamento. Tinha vontade de responder:
_ Por que um dia
você vai morrer seu imbecil! - Mas, sem dúvida, em nome dos bons negócios não
poderia admitir e muito menos dizer isso.
Engolia em seco,
pegava seu sorriso, sua pastinha e saía da casa do cliente cabisbaixo em seu
terninho, às vezes, amarrotado. Saía arrasado, sem motivação alguma. Era triste
ver um homem naquela condição.
Reclamou lá, na
hora do cafezinho, na empresa sobre isso. Estava difícel vender caixões. Mas,
alguém disse, "tem que ter jogo de cintura", foi o que ouviu. Isso
mesmo. Tem que saber sobre o produto, disse outro. Tem que ter conhecimento do
assunto e por aí foi a conversa. Mas apesar das palavras de incentivo e apoio
isso não ajudava a alavancar as vendas.
Foi quando suas
queixas chegaram aos seus superiores na empresa. Chamaram ele no escritório.
Explicaram que entendiam sua situação, que estava tendo dificuldades nas vendas
por ser um iniciante no ramo. Com o tempo, pegaria o jeito, de vender caixões.
Não poderia perder o foco. Além do mais, estava vendendo os melhores caixões
que existiam no mercado. Isso tinha um valor.
Tinha que
agregar isso ao seu trabalho. Impor respeito e concluir a venda. Era isso. Só
isso que tinha que fazer. Inclusive, aproveitando que estava ali, ofereciam a
ele a perspectiva de um novo negócio, a empresa estava expandindo e já oferecia
serviços de cremação. Inclusive, havia a possibilidade de enviar as cinzas
funerárias para o espaço sideral.
_ Para o espaço
sideral? Pedro Botelho, inclusive suspirou e pensou em voz alta.
_ Isso mesmo, no
espaço sideral, veja você - Respondeu o representante da empresa.
Capítulo 6.
Todo mundo se
acha no direito de te xingar se você não tem dinheiro. Pelo menos, você se
sente assim. Não importa o ser, mas o ter.
_ O que é que
você tem?
Se você tiver
algo de valor pode até ser considerado. Ninguém se importa mais com valores
morais se não houver uma renda digna. Entenda-se, por isso, possuir dinheiro.
_ Qual a origem?
Isso não importa - Alguém responde na bucha.
O importante,
nos dias de hoje, é ter. Mas isso não
seria errado? Mas quem se importa?
Não é certo
passar por cima de tudo. Atropelar. Ser destrutivo. Existem coisas mais
importantes do que isso. Só que isso não interessa mais.
O que se entende
de tudo isso? Talvez que roubar, matar e outras tantas maldades são irrelevates
nos dias de hoje. Porque se você tem dinheiro, você compra. Tem que ter a bala.
Pagar o preço.
É verdade, a
sociedade de consumo, tem lá suas vantangens, não é mesmo? Não há como negar.
_ Quanto custa?
Ainal, tudo tem
seu preço. Inclusive, vale pechinchar. Isso não quer dizer que devemos concordar
com essa agenda. Sei que, esta situação, de não ter nada no bolso, é constrangedora.
Um saco. Talvez, um pretexto para destruirem minha individualidade. Tipo que
abandone meus sonhos em nome de algo mais dócil, mais comunitário ou o nome que
quiserem dar. Se vender para o sistema corrupto.
É isso. Ser do
tipo que aceita as regras do jogo. Mesmo, que haja muitas excessões. Será que
estou equivocado? Ou devo passar por cima de tudo?
Capítulo 7.
Pedro Botelho
saiu, andando a pé, e sem rumo, pela Consolação, quando passou na Frei Caneca,
viu uma movimentação, algumas pessoas se aglomeravam, logo sacou que estavam
vendendo crack. Comprou uma pequena porção e logo a usou ali mesmo, entre os
usuários da pedra química.
Teve um alívio
imediato de sua angústia. Sentia-se livre por alguns momentos. Os problemas o
abandonaram, deram uma trégua até a vontade de comprar mais droga. Encheu a
cara também, ficou alegre, mais desinibido.
Sentiu-se
excitado, seu pau estava duro, queria fazer sexo. Pelo que seus olhos
observaram estava fácil conseguir sexo, haviam profissionais que poderiam
ajudá-lo. Logo, puxou assunto, combinou o preço e se dirigiram para um quarto
imundo na localidade.
Ele estava alto
e não reparou muito bem na mulher, que deveria ter, talvez, seus 30 anos, uma
verdadeira profissional, que sabia tirar seu sustento de homens idiotas e
babacas como Pedro Botelho.
Foi logo
colocando o pau dele pra fora e movimentou uma de suas mãos sobre o orgão
genital de Pedro Botelho que logo respondeu com uma ereção. Ela, então, se
abaixou, e abocanhou o falo do homem que gemeu ao sentir seu caralho envolvido
pela boca da puta da Augusta. Ela apertou suas bolas, ele gemeu.
Estava gostando
daquela sensação. Ela se virou, ficando de quatro para ele, como se o estivesse
convidando para a dança.
Mesmo, não o
vendo, por estar de quatro e de costas para Pedro, lhe passou com a mão
esquerda, uma camisinha, que ele, se atrapalhou um pouco, mas conseguiu vestir
sobre seu membro.
Como ele se
havia demorado, nessa operação, ela se sentou no que se convencionava chamar de
cama , naquela espelunca, e abriu lhes as pernas, lhe revelando sua buceta.
_ Vai meter não,
meu bem? - Foi o que ela disse, diante da inércia do rapaz.
Pedro Botelho,
não teve dúvida, posicionou seu mastro na entrada da buceta da puta e enfiou
tudo de uma vez só. Chegou a pensar que se tratasse de um travesti, por isso
havia optado pela chupada, às vezes , quando a vontade era muita, comia o cú de
uma boneca só para não perder a viagem, mas achava, depois, ficava arrependido,
por achar aquilo tudo uma viadagem. Pagou a conta. Ergueu as calças e foi
embora.
Já, de volta às
ruas, comprou uma cerveja latão de um ambulante e aproveitou e arrumou um pino
de cocaína para continuar a balada. Estava zoado. Já tinha comido uma puta e
ainda queria se divertir, pois sua noite só estava começando. O cara estava
alucinado, do jeito que o diabo gosta, talvez, por isso, ou por mera
coincidência, entrou no Inferno Club na Augusta.
O cara estava
doidão, a balada estava quente, a pista bombava. Bebeu um pouco mais, o efeito
do pó passou um pouco, precisava dar mais uma cafungada, dirigiu-se ao
banheiro. Não havia ninguém por lá. Esticou a carreira ali na pia mesmo, em
frente ao espelho. Fez um canudo, abaixou-se e cheirou o pó. Sentiu ele
entrando pelas narinas e trazendo aquele gosto amargo que fez sua boca
adormecer, fechou os olhos para obter maior prazer daquela sensação.
Ao abrir os
olhos, diante do espelho do banheiro, se assustou com a visão, na verdade , o
reflexo de um homem misterioso que o encarava. O homem manteve se imóvel, atrás
dele, e sorria. Um sorriso de comercial de pasta de dente. Essa, suposta,
euforia, constrastava com o semblante de Pedro Botelho, que ainda não havia se
recomposto do susto.
O misterioso
homem, sustenta o sorriso e não lhe diz nada. Isso acalma o seu espírito, que
assinala a possibilidade de diálogo com o homem, que agora até parece ser uma
pessoa simpática. Alguém , em quem, possa se depositar a confiança.
Pedro se
emocionou, lágrimas surgiram em seus olhos, como se reconhecesse o misterioso
homem como sendo a encarnação do diabo. O misterioso homem continua sustentando
o sorriso, cínico , falso e sedutor.
O rapaz, então,
leva as mãos à cabeça, fecha os olhos e diz em voz alta;
_ Faria qualquer
coisa para sair deste inferno que estou vivendo!
_ Qualquer coisa
mesmo? - lhe perguntou o misterioso homem pelo reflexo do espelho.
Pedro Botelho
não diz palavra alguma, mas balança a cabeça positivamente. Os cabelos,
molhados pelo suor, lhe caem pela testa, abaixa sorrateiramente um pouco a cabeça
e um sorrisinho surge no seu reflexo no espelho.
A voz do
misterioso homem ecoa no ambiente, já que sua visão já não é mais observada
pelos olhos de Pedro Botelho. Esta, voz, lhe transmite uma mensagem, na verdade
lhe faz uma pergunta:
_ Você mataria
uma pessoa em troca da fortuna?
Pedro Botelho,
transfigurado, em transe, cai em uma diabólica gargalhada.
...
...
A lenda de Fausto, aquele que
vendeu sua alma ao diabo, tornou-se célebre por meio do poema épico de Goethe.
Não levarei em conta o personagem histórico, mas apenas aos pensamentos que me
ocorreram sobre o mito retratado pelo poeta alemão.
Se buscarmos um elo, pois
"quem procura acha", podemos encontrar algumas semelhanças. Talvez,
eu, Pedro Botelho e Fausto, por ocasião de sua tragédia, tenhamos a mesma
idade, talvez sejamos reflexo de uma crise dos 40 anos, que atinge todo o homem
moderno, cada qual no contexto social de sua época.
Fausto era um homem dedicado
a leitura, já não sou tanto, assim
adquiriu conhecimento, mas não era tudo. Eu não tinha nada. Isso me deixava
triste, me sentia subestimado por meus pares. Terrível angústia que se abatia
sobre o meu ser. Lastimável.
Do que adianta cuidar das
flores se não tenho para o meu próprio sustento? Não era algo contraditório?
Talvez Fausto também tenha chegado à essa conclusão? Talvez. Por isso, buscou
Mefistóteles para fazer um pacto com a entidade.
Daria sua alma em troca de 24
anos sem envelhecer e desfrutar das coisas boas da vida. Aliás, algo tentador,
para alguém que estava batendo nas portas do desespero. Mas essa não seria a
tragédia do desenvolvimento? Isso porque o Fausto trágico representa o homem
moderno. Aquele que está, umbilicalmente, unido à posse, ao sentimento de
possessividade. Envolvido, até o pescoço, com as coisas materiais da vida. Em
detrimento, de toda e qualquer forma de espiritualidade.
O contrato, lavrado entre
Fausto e Mefistóteles, foi assinado com seu próprio sangue. Fico imaginando, eu
Pedro Botelho, se tivesse a oportunidade, agora, de ter recebido essa proposta,
nesse momento crítico que sofro a dor da existência, será que aceitaria?
Isso iria de encontro aos
meus anseios? Me venderia por 30 moedas de ouro? Mas seria o suficiente?
Menciono isso, porque Judas , ao que se consta, não chegou a fazer uso dos
recursos obtidos pela traição à Cristo, ao beijar o rosto de Jesus, como sinal
ao romanos, para identificá-lo, no Monte das Oliveiras .
Será que devo me lamentar por
essa vocação? Mas por que me vejo envolto em pensamentos dessa natureza? Não
moldei meu espírito ara praticar o mal. Talvez residisse aí o motivo do meu
sofrimento?
Não sei ao certo, estava
confuso, sentia dúvida em meu coração. Isso ficou mais evidenteno final do mês,
quando receberia meu primeiro salário. Como não havia realizado nenhuma venda,
não tinha direito a comissão nenhuma.
Assim, ainda estaria atolado
na merda. Isso me deixava muito triste. O fato de ainda não ter vendido nenhum
caixão. Tinha um emprego, mas não havia conseguido mudar minha situação. Isso
era terrível. Me fez um mal danado. Enfim, no final do mês, recebi uma
micharia, isso me revoltou.
Capítulo 8.
Deveria estar em
sono profundo quando seu celular começou a tocar insistentemente. Dormia como
uma pedra, se é que isso é possível. Tinha o sono pesado. A balada da noite
anterior também entrava na equação; era melhor pegar mais leve e acordar mais
tarde.
Mas o celular
não parava de chamar. Insistente. Sabe, quando a pessoa ainda está dormindo,
mas mesmo assim, em um esforço sobre humano, consegue atender a ligação?
_ A
Comissão, Pedro...você não vem buscar?
_ O que?!?!
_ Cara, você não
vai acreditar. Cara, estamos te ligando desde de oito da manhã, cara.
_ Você vendeu um
caixão, véi! - gritou feliz uma voz de um jovem rapaz do outro lado da linha.
Foi como uma
lufada de ar frio, como uma brisa refrescante que veio soprar no seu rosto.
Alívio. Sensação de Paz. O sossego do guerreiro. Aquela informação acalmava
seus sentidos, poderia voltar a respirar outra vez.
Pôxa, que coisa
bacana - pensou. Mas, tem um detalhe,se eu vendi um caixão é por que alguém
morreu?
O rapaz da
funerária, ao telefone, continuou quente fazendo o informe geral.
_ Aquele velho
que você foi visitar, saca?
_ Ah, sei, sim.
- Descontraiu-se, liberou um sorriso em seu rosto. Um homem muio simpático, abençoado,
senti uma boa sensação de estar com ele, um homem cheio de saúde... - antes que
continuasse, a voz do rapaz da funerária
disse secamente:
_ O velho
morreu!
Capítulo 9.
O seu primeiro
mês na empresa não foi fácil. Tinha a expectativa de ganhar um bom salário,
isso era verdade. Mas, também era o fato de que se tratava de vendas. Dessa
forma para que fizessem o depósito em sua conta um bom salário teria que,
conceitualmente, atingir a meta de vendas estipulada. Um salário mínimo fixo e
o restante em forma de comissão. Até então, Pedro Botelho, após um mês inteiro,
batendo perna, correndo atrás, não havia vendido nada.
O difícil não
era concluir o negócio, mas algumas pessoas que parece que sentiam prazer em
deixá-lo constrangido. Uma situação absurda que passou a incomodá-lo. Ficou
mais irritadiço.
Passava a maior
parte do dia alimentando a raiva que sentia. Não suportava mais ser chamado de
Zé do Caixão. Isso enchia o seu saco. Até que gostava dos filmes de Coffin Joe,
o Zé do Caixão, José Mojica Marins, filho de artistas de circo. O seu filme
preferido era Meia Noite Levarei a sua Alma, a película virou o que se costuma
chamar de Cult Movie nos Estados Unidos, no circuito underground.
A funerária em
que trabalhava prestava atendimento 24 horas. Na verdade, sempre havia um grupo
de funcionários no plantão noturno. Para supostas emergências e a necessidade
de prestar o serviço, mobilizando, a partir desses colaboradores, o modo de sua
ação de acordo com o evento ocorrido. Uma vez, que as vendas mesmo, eram feitas
de casa em casa, com planos de pagamento facilitado e com alguns benefícios.
Talvez, tivesse
sido seu segundo, ou mesmo terceiro plantão, não sabia ao certo, lembra-se
perfeitamente o que lhe aconteceu. Não quis comentar nada com ninguém. Tinha
receio que achassem que estivesse louco. E, de modo algum, queria perder seu
emprego.
Já passava da
meia noite, tinha, praticamente, um turno inteiro pela frente, por isso ,
resolveu dar um pulo na copa, para um cafezinho. Por cortesia, da empresa,
sempre havia uma garrafa térmica de café para os funcionários de plantão. Pedro
Botelho, foi lá, apressado, pois tinha que cumprir um protocolo já iniciado.
Como estava com
a cabeça cheia, voltada para seu trabalho, mal percebeu a presença de um velho
senhor, na copa, olhou de relance, e com os olhos mesmo
cumprimentou de volta o idoso. Estava com pressa, não deu muita atenção.
Ao sair da copa,
bebericando o café, percebeu que estava sem açucar e voltou ao recinto em que
se encontrava. Lembrou-se daquele velho senhor, era a chance que tinha de ser
mais educado, prestar mais atenção, em todos os sentidos, àquela pessoa.
No entanto, ao
voltar, ficou perplexo, pois não havia ninguém. Estranhou um pouco, colocou
três colherzinhas de açucar e mexeu o café no seu copo descartável. Ocorreu em
seu pensamento, isso o deixou um pouco assustado, que aquela pessoa que chegou
a pensar ter visto, de fato, poderia não existir. Poderia ser um fantasma.
Respirou fundo. Estava com medo.
Sentiu um frio
na barriga. Nunca tinha visto um fantasma em sua vida. Agora, tudo indicava,
que teria feito esse contato. Mas, da forma que aconteceu, foi algo tão bobo,
jurva tratar-se de um senhor de idade ali naquele esmo recinto que ele.
É verdade, foi
um tanto arrogante, pois não deu a devida atenção ao velhinho. Por isso, não
teria a certeza em confirmar que, de fato, tivesse observado o que seus olhos
viram. Poderia ser uma ilusão ótica. Ou seria mesmo um fantasma?
Por volta das 3 horas da madrugada o plantão noturno foi acionado. Uma família solicitava os
serviços de velório, tinham um plano de financiamento, para o enterro do
patriarca, um velhor senhor que havia falecido, de ataque cardíaco, fulminante,
por volta da meia noite. Por acaso, Pedro Botelho, foi encaminhado para
participar daquele atendimento.
Manuseando os
papéis, a documentação necessária , notou que havia uma foto do defunto. Para
sua surpresa e susto, ficou pálido e sem na hora, com aquela constatação que
lhe deixou pasmo; tratava-se do velho que vira no refeitório, na copa, da
empresa.
Capítulo 10.
Foi em uma tarde
chuvosa, em um dia no meio da semana, terça ou quarta, talvez, que conheceu
Valdir Peres, o investigador de Polícia, que apareceria novamente, em sua vida
, em uma outra circunstância. Naquele caso específico, tratava-se de uma exumação
de um cadáver.
O caixão, com o
devido corpo, fora retirado do cemitério, por uma equipe especializada, e
levada para a funenária para que fossem feitos os devidos exames legais.
O corpo, ou o
defunto, fora enterrado fazia uns dez anos. Tratava-se de uma mulher. Jovem e
bonita. Frequentava as colunas sociais dos jornais diários da cidade. Teria
sido assassinada ou teria cometido o suicídio? Ninguém sabia ao certo. Ocorre
que as circunstãncia em que ocorrera seu óbito, estavam envoltas em uma questão
nebulosa para a política local.
Segundo consta,
Daniele Lavosier, teria se envolvido com um politico importante, que viria a se
tornar governador do Estado, em um futuro próximo, e que na época, já se
encontrava casado com filhos. Seria um escãndalo, o fim de sua carreira, se o
seu romance com a bela modelo Daniele viesse a público.
Acontece, que o
cenário, onde o corpo da modelo foi encontrada, indicava que a moça, antes do óbito, havia sido
violentada, drogada, tendo sido encontrda nua, e sozinha, em uma cama de casal
de um conceituado Flat, padrão cinco estrelas, nos Jardins, em São Paulo. O caso foi abafado. Durante os
últimos dez anos ninguém comentou mais sobre a bela modelo, internacional,
Daniele Lavosier; uma promessa do mundo fashion.
Acontece, que
passado, todo esse tempo, os ventos da política sopraram para o leste, no
sentido contrário, do principal acusado, que agora ocupava um cargo eletivo de
destaque no cenário da política regional. Ainda cantava de galo. Mas não tinha
mais cacife para barrar uma exumação.
Coisas estranhas
aconteciam naquela funenrária. Talvez, pelo fato, da empresa lidar com a morte.
Isso era presumível de se pensar, mas não era aceitável de se comentar nos
corredores da empresa. Todo mundo fazia vistas grossas quando surgiam relatos
estranhos ocorridos na dependência da funerária. Aquela tarde, em que chovia,
entraria para a lista de fatos , diríamos, inusitado, que, volta e meia,
acontecia por lá.
Pedro Botelho,
ao lado do investigador Valdir Peres, abriram a tampa do caixão e para o choque
deles, ficaram perplexos, com o que avistaram, ainda tinham o testemunho de um
oficia de justiça, que, ficou,literalmente, espantado com o que seus olhos
observaram. O corpo estava intacto.
Incrível, após
dez anos, em processo de decomposição, enterrada embaixo da terra, em um
cemitério jazia Danieli Lavosier tão bela quanto o dia em que a morte lhe
beijou seus labios levando-a , assim, para a vida eterna.
Todos ficaram
chocados com aquela visão. Como aquilo poderia ser possível. O Oficial de
justiça perdeu a razão, não falava mais coisa com coisa, já Valdir Peres,
perdera,por alguns instantes, a memória do que deveria ser feito, estava
confuso. Pegou o celular e saiu pelo canto a conversar, sabe se lá, com quem.
Talvez, com o delegado ou algum juiz que havia deterinado a exumação.
Pedro Botelho
ficou ainda mais desorientado ao constatar qie o cadáver era de Daniele. Antes,
do seu homicidio,ou suicídio, como querem aguns, ela se destacou na mídia. Uma
das mulheres mais sensuais que , até então, conhecera. Ela, a modelo, na época,
feztanto sucesso, devido suas formas sinuosas, seus fartos seios que
despertavam o desejo nos homens. Devido a isso, foi convidada a posar nua.
Foi um
escândalo, pois a menina, de uma família tradicional, isso não quer dizer que
se tratasse de uma família cheia de posses, teve seu tempo, entre a elite, que
comandava o poder, agora, sobrara apenas a empáfia, a arrogância e o despeito
de pequenos burgueses sem expressão, alguma, no jogo político, de então qe se
desenhava.
O pai da modelo
revoltou-se. A revista com as fotos nuas de sua filha chegaram as bancas. Mas
foram retiradas de circulção, meia hora após sua entrega, nas bancas. Acontece,
que na época, Pedro Botelho fora um dos poucos que compraram o seu exemplar com
as fotos da deliciosa Daniele pelada.
Sempre teve uma
espécie de compulsão sexual. Era um tarado. Não entendia muito bem sua
sexualidade, sendo mais animal do que racional neste aspecto. Masturbou-se
muito com as fotos peladas de Daneli Lavosier. Tinha uma tara, que era fazer
sexo com ela. Mas, nunca havia realizado esse sonho até aquele dia.
Sua mente
começou a fervilhar. Ainda conseguiu se comportar e se despediu do investigador
e do Oficial de Justiça. Voltou de noite, de pinto duro, e destampou novamente
a tampo do caixão. Cuidadosamente, retirou o corpo e a colocou deitada em uma
mesa de pedra.
Tirou as roupas
que cobriam seu corpo, que parecia estar vivo, apesar de certa palidez, que
deixou Pedro ainda mais excitado. Ele a abraçou, depois beijou seus lábios
frios como uma pedra de gelo. Esfregou seu corpo, sobre o cadáver, buscando a
penetração, em uma louca tentativa de copular com um defunto.
Enquanto Pedro
Botelho fazia sexo com o cadáver de Daniele, houve uma queda de energia, no
local, os geradores foram ligados, mas demoraram uns 5 minutos, para voltar a
energia, durante o período do blackout, ocorreu uma trepada de Pedro, que foi
camuflado pela escuridão.
No dia seguinte,
os demais funcionários, que participaram daquele plantão noturno relataram a
ocorrência de algo anormal naquela noite. Segundo eles, todos em estdo de
choque, disseram que durante o apagão das luzes, ocorreu uma trepidação das
portas dos caixões na sala de velório. Mas nada foi comprovado, só mesmo os
funcionários que estavam assustados.
Capítulo 11.
Sonhos estranhos.
Pesadelos. Notei que nos últimos tempos, tenho tido muitos pesadelos. Algo
constante, que me tem deixado irritado, pois me atrapalha o sono. Não conseguia
mais dormir como antigamente.
Agora, tinha
mais essa. Todo dia acordava com uma sensação ruim, como se não tivesse dormido
o suficiente para aguentar o batidão do dia seguinte.
Mas já era hora
de acordar. Meu corpo não queria, precisava de mais algumas horas de sono. Abri
os olhos. O mundo ainda continuava do mesmo jeito. Ligo o rádio. Notícias.
"Seis pessoas são assaltadas durante o passeio".
Foi o suficiente. "Desliguei o aparelho. Não
precisava mais saber de notícia ruim. Algum novo crime deveria estar ocorrendo,
em algum lugar, nesse exato momento".
No oriente médio
bombas deveriam estar explodindo na Faixa de Gaza. O mundo estava de pernas
para o ar. A confusão de sempre. A minha situação também não alterava, sempre a
mesma agonia e sofrimento. Como vou sai dessa? Questionei, a mim mesmo, e não
tinha, uma resposta adequada.
Joguei a toalha,
não trazia mais a bandeira da esperança, estava descrente na vida etão pouco na
humanidade, como um todo, estava triste por isso. Não enxergava a perspectiva
de futuro algum. Tudo, aparentemente, não passava de um jogo de cartas
marcadas. Resolvo sair um pouco, caminhar pelas ruas de São Paulo, sem rumo ou
destinação alguma. O trânsito, mesmo para
opedestre, continua caótico.
A impressão que
se tem é que o mundo já acabou faz tempo. Mas esqueceram de avisar ao resto da
população, que vivem feito umas baratas tontas. Puta que pariu, que merda!
_ Isso aqui é o
inferno - Esbravejava Pedro Botelho. O mau humo pegava carona nesse sentimento
hostil que tomava, a mente, de assalto.
Então, um menino
de rua lhe pediu uns trocados. Teve a nítida impressão e o impulso, devido ao
excesso de raiva que o consumia, de sair chutando aquela pobre criança, como se
ela fosse culpada pelos pecados do mundo.
Logo, caiu em
si.
_ O senhor tem?
- o garoto insistiu.
Pedro Botelho
sentiu vergonha da natureza do seu pensamento. Como assim? Como poderia agredir
um menino de rua? Não estava bem da cabeça. Que coisa chata. Acho que estou
virando um monstro - pensou.
_ Você não tem
uns chicletes? - Perguntou ao menino
para quebrar o gelo.
_ Tem sim - O
menino já lhe estendeu a mão com a goma de mascar e já passou a mão nas
moedinhas.
O menino, então,
sorriu e se despediu:
_ Deus te
abençoe!
Capítulo 12.
Pedro Botelho
tinha um problema sério com mulheres. Não tinha o dom de se relacionar com
elas. Tinha compulsão sexual e resolvia isso por meio da masturbação ou pagando
para dar uma trepada com as putas da rua. Tinha, praticamente, um comportamento
anti-social. Não era de fazer média alguma. Era um sujeito seco.
As pessoas costumavam
ter aversão dele, devido a profissão de vendedor de funerária. Na verdade, as
pessoas, em sua maioria, tinham aversão a qualquer coisa que os ligasse a
morte. Ninguém, afinal, gostava de
manter laços de amizade com essa senhora. tão pouco com alguém, como ele,
conhecido coo sendo o cara da morte.
Em um remoto
passado, não muito distante, teve um relacionamento com uma mulher. Casada,
amasiada de um amigo seu. Um cidadão de difícil trato, bruto, que se envolvia
facilmente em confusão. Sempre estava envolvido com uma treta, de todo tipo,
quanto mais cabeluda melhor. Seu nome era Zé Bode.
Cabra da peste,
malvado. Não deixava nada passar barato, tão pouco batido. Foi preso por
traficar cocaína na favela. Durante o período que puxou uma férias forçadas,
cumpria sua pena por tráfico, se ausentou do seu lar, foi quando Pedro Botelho
apareceu e compareceu com sua patroa.
Dizem que para
aumentar o orçamento, já que Zé Bode tinha dificuldades para mantê-la, estando atrás das grades, que ela se
prostituía . E foi no exércício, da função, dessa profissão, talvez a mais
antiga do mundo, que Pedro Botelho conheceu, a fundo, sua mais profunda
intimidade.
Logo, a conversa
de que sua patroa estava se engraçando com um camarada abusado como Pedro, lhe
despertou um ódio e jurou aquele cabra safado de morte. A ficha policial de Zé
Bode o credenciava como um bandido, um bandidão mesmo, de causar medo. Já fora
preso por latrocínio, roubo seguido de morte, uma de suas especialidades,
até passar a atuar como um traficante de
cocaína de renome em sua região.
Já fora preso
várias vezes e tinha um bom relacionamento com a comunidade carcerária. Da
última vez, fora levado, de volta, para a cadeia, por causa do tráfico. Mas teve
ou simulou uma dor de dente e teve que ser transportado para fora do presídio
para tratamento.
Era tudo o que
queria. Devido seu bom relacionamento com a bandidadem, sempre ladeados de
bons advogados, conseguiu um indulto no dia dos Finados. Saiu pela porta da
frente e nunca mais voltou. Jurou vingança de morte ao sujeito, o cabra safado
que lhe colocou chifre na cabeça.
Certa vez, já
nos dias de hoje, Pedro Botelho estava cumprindo seu expediente na funerária.
Quando foi chamado no alto falante. Solicitavam sua presença no RH. Chegando
lá, o encaminharam para a sala do doutor Petrônio, o dono da empresa.
O empresário foi
bastante afetuoso com seu colaborador. Fez elogios a sua conduta como sendo um
bom funcionário. Por isso, queria que recebesse um novo colaborador, que por
sua vez, seria um grande amigo seu. "Como assim"? Amigo meu?
O seu Petrônio
lhe disse que foi procurado por um jovem que se dizia seu amigo e era muito
grato por ser um camarada bastante generoso. O doutor Petrônio caiu a conversa.
O cidadão era Zé Bode. O sujeito, o cabra safado, que havia jurado Pedro
Botelho de morte.
Tempos depois o
corpo de Zé Bode foi encontrado, nas dependências da funerária, com dois tiros
na cabeça e um no abdômem. Novamente, o investigador Valdir Peres esteve na
funerária, mas dessa vez não se encontrou com Pedro Botelho. O investigador
acompanhava o pessoal do Instituto Médico Legal que foram buscar o cadáver do
Zé Bode. Disseram que fora vítima de assalto.
Mas, logo,
levantaram sua ficha, latrocínio, tráfico de drogas, não era, do tipo,
flor que se cheirasse, de modo algum.
Portanto, com o conhecimento notório de que, Zé Bode,era um bandido, logo o
deixaram de lado.
_ Essas pessoas
que fazem coisa errada, sempre vão ter, vão encontrá-lo um dia, alguém que lhe
cobre pelos seus erros - Disse o doutor Petrônio para os repórteres que se
aglomeravam para ouvir uma declaração oficial da funerária.
_ Leva o
cadáver. - gritou o investigador Valdir Peres.
Capítulo 13.
Pedro Botelho
passou, com mais assiduidade a frequentar a sala do doutor Petrônio. Virou uma
rotina. Ao invés de tomar o café na copa, no refeitório, com os demais
funcionários, passou a compartilhar esse momento com o chefe.
Em uma dessas
visitas, tornando-se mais íntimo a cada visita, ou investida, propõe ao dono da
empresa, que colocasse um financiamento para que as pessoas, de baixa renda,
pudessem comprar mais caixões para quando precisassem enterrar seus entes
queridos.
O doutor
Petrônio farejava longe um bom negócio. Viu com bons olhos a sugestão de Pedro
Botelhoe logo, em pouco tempo, adotou, aumentando assim, consideravelmente o
faturamento da empresa.
Com isso, Pedro,
foi promovido para Consultor Sênior da Funerária. Passou a ganhar um salário
bem maior, com participação nos lucros da empresa. Seu ego se incendeia. Compra
um carrão e sai pelas ruas dirigindo em alta velocidade. Logo se estabiliza
como o melhor vendedor da funerária, o campeão de vendas!
As pessoas não
gostam de falar sobre a morte. Nem de assuntos que tratam do assunto Assim,
tendo consciência desse fato, Pedro Botelho, passou a superfaturar o preço dos
caixões, os clientes, preocupados em enterrar seus entes queridos não percebiam
as manobras de Pedro Botelhopara aumentar seus lucros.
A vida, enfim,
parecia voltar a sorrir para Pedro Botelho. Mas tudo isso teria um custo alto a
ser pago. Como tudo na vida.
Em uma dessas
visitas, o doutor Petrônio, sentindo-se mais à vontade na presença de Pedro,
era como se tivessem sido amigos de infância, devido a empatia que surgiu,
entre ambos. Petrônio tinha uma farta cabeleira branca, grisalha, corte bem
efeito, gostava de estar sempre bem trajado, naquela ocasião, o empresário,
vestia um terno italiano. Pedro Botelho também não ficava atrás, em matéria de
elegância.
O empresário, um
cinquentão, talvez tivesse mais de 60 anos, enfim, acendeu um charuto cubano,
um de seus preferidos, mas antes ofereceu ao rapaz, que, educadamente, como um
lorde inglês, simplesmente, balançou a cabeça, como se estivesse tranquilo.
Em seguida,
Petrônio, já envolvido pela fumaça do charuto, algo que lhe causava prazer, sentia
uma boa sensação ao estar envolto pela fumaça do seu charuto. No cnto da sala
estrategicamente, havia um carrinho, um mini bar, onde, de vez em quando, se
servia, de um uísque.
Dessa vez, Pedro
Botelho, não recusou o convite. Afinal, era um black label, de 18 anos, o
néctar dos deuses, segundo o doutor Petrônio.
Ele sentou se em
sua cadeira, após servir e a seu convidado, sempre com o charuto, em sua mão
esquerda, a gesticular, como se fizesse uma coreograia, macabra, como de seu
hábito, por mais que tentasse ser discreto, ou algo assim, com os seus gestos,
atitudes e ações. Todo confiante e cheio de si, contente por estar diante de
algo igual, pelo menos assim, o doutor Petrônio, já o considerava, Pedro
Botelho, como membro da elite a qual ele pertencia.
_ Sabe, Pedro -
dando uma baforada em seu charuto - Esse nosso ramo de negócio é muito
lucrativo. É uma benção de Deus! - disse com empolgação.
Pedro Botelho se
engasgou na hora. Foi um susto. Voltou seus olhos para Petrônio que sorria, mas
tinha a essência da maldade, ganância e soberba, percebeu na sua risada. Isso o
acalmou. "Que expessão de merda esse cara foi usar?", deve ter
pensado com seus miolos moles.
Tinhoso, como
ele só, não teve dúvida, sorrateiramente, de forma dissimulada, sua
especialidade, aproximou-se da mesa do chefe, e sem ele perceber, já que ainda
estava envolvido com a baforada e a risada.
_ Você sabe
quantas pessoas morrem por dia, em uma cidade, como São Paulo?
Capítilo 14.
O campeonato
brasileiro de futebol, de 1977, teve como campeão o time do SãoPaulo, seu
primeiro título nacional, foi o campeão, ganhou na disputa por pênaltis. Detalhe:
a decisão aconteceu no ano seguinte, em um 5 de março. O vice-campeão foi o
Atlético Mineiro, que perdeu, mas alcançou 10 pontos a mais que o time campeão
Eram as regras do jogo.
Meu pai torcia
para o São Paulo. O jogo foi no dia em que nasci. Papai deve ter feito uma
promessa. Se meu tive ganhar meu filho vai ter o nome do goleiro. Por isso, eu
me chamo Valdir Peres. Nem gosto de futebol. Formei em Direito e logo passei em
um concurso da polícia para ser investigador. Acomodei. Um salário fixo para o
resto da vida. Abri mão dos meus sonhos. Nem lembro mais qual era o meu.
Agora, estou
aqui, de volta a funerária, com uma pulga atrás da orelha, em busca de um
serial killer que ninguém acredita que existe. E tem alguma ligação com essa
funerária. Os familiares das vítimas, por coincidência, compraram os caixões,
das vítimas aqui nessa loja. Inclusive, até houve um homicídio, se bem que de
um sujeito procurado pela polícia.
Dentro do prédio
da funerária, o ar condicionado estava ligado, o ambiente não se assemelhava
com uma empresa do ramo, lembrava um consultório médico, talvez um shopping
center, enfim, cadeiras confortáveis para se sentar , enquanto se aguardava, um
balcão com atendentes uniformizadas e uma imensa TV grudada na parede para
distrair os clientes.
O volume do
aparelho está alto. O clima está dramático. O apresentador capricha na
interpretação. Coloca ênfase em cada palavra, como se realmente estivesse
transtornado com tudo aquilo. Os telespectadores gostavam disso, parecia algo
real. Aparentemente tudo rolava ao vivo e nada poderia sair do script. Muita
emoção, existiam boatos sobre um serial killer estar atuando, se aproveitando
de uma greve da Polícia.
A população está
com muito medo. Os índices de violênca extrapolaram. Isso é uma vergonha para a
nossa segurança pública. Em contrapartida, o poder público não faz,
absolutamente, nada.
Esse pessoal, só
quer saber de se comprometer com a comunidade, em época de eleição, depois de
eleito, os caras, somem. Vai tentar marcar uma hora com eles, uma entrevista que seja para
resolver os problemas da comunidade.
Eles não
atendem, deixam o cidadão na mão. Agora, olha que situação, a Policia Militar
está em greve. Eles estão no seu direito, os policiais de reivindicarem o que
havia sido combinado anteriormente com o governo.
No meio disso tudo, surge Satanás trazendo um
bônus para a comunidade, vejam só, no apagar das luzes, me surge aí, um gaiato,
de um serial killer"
Na recepção da
funerária, Vilma e Valéria, as atendentes ,comentam sobre a rotina do
expediente. Logo, já estão fofocando, mas não é por maldade, é como um esporte;
conversar sobre a vida dos outros.
Já que não
possuem hábitos como a leitura, é necessário encontrar uma função para o
cérebro, já que pensar não é o forte dessa gente, que não lê livro. Assim,
especular sobre a vida dos colegas de trabalho fica até divertido, serve como
passatempo, como se não houvesse nada a ser feito.
_ Menina, você
tem notado o Fofinho?
_ Valéria, de
quem você está falando?...me conta...
_Ah, estou
falando daquele vendedor da funerária...
_ Qual deles?
Aquele que você estava arrastando asa?
- É, ...esse
mesmo...parece ter uma virilidade...
_ Um pedaço de
homem, né?... vejo que seus olhinhos não brilham mais como antes, o que foi?
_ Não sei o que
é, tô achando ele um pouco esquisito!
_Vilma - Valéria
olha no monitor de video e se volta para a colega - ao ver o investigador
entrado no prédio.
_ O que você
acha dele?
_Eu não acho
nada. Muito sem sal para o meu gosto.
As duas se
entreolharam e abaixaram a cabeça tentando esconder o riso. Nisso, Valdir, se
aproximou do balcão para pedir uma informação. E se apresentou como sendo da
Polícia
Capítulo 15.
Valdir não sabia
o motivo que levava , novamente à funerária.Mas algo lhe dizia que era para lá
que deveria ir. Era intuição. Alguma coisa deveria estar acontecendo lá, não
sabia transformar isso em palavras, e a partir delas, criar uma argumentação
plausível, mas não era isso.
O mais inusitado
de tudo era que as vítimas do provável serial killer, todas, foram enterradas
em caixões comprados naquela mesma funerária. Até mesmo o homicídio, não
explicado, de Zé Bode, enterrado como indigente, mas que ganhou como cortesia
um caixão do doutor Petrônio, o proprietário; também iria de encontro à essa
tese.
Havia um
detalhe. Ainda não estava comprovado que todas aqueles mortes, ocorridas em
situções diferenciadas, não se tratava de mortes naturais,ou que haviam sido
assassinadas, em um momento de escalada da violência, também em virtude da
greve da Polícia.
Não queriam
botar tudo na conta de um serial killer.
Tinham medo que essa história vazasse e aumentasse o pânico e instalasse o caos
na população, ainda mais com a polícia em greve. Aos poucos, Valdir, elucidava
aqueles terríveis crimes, não estava à frente do caso, seguia sua intuição, fazia suas pesquisas,
checava, cruzava os dados e algo continuava a lhe dizer, tem algo estranho
nisso tudo.
Não era a
primeira vez que passava por isso. Na época que fora casado com Maria Laura,
rolou um lance assim, no começo o casamento foi bom,companheirismo, paixão,
tudo legal;depois , com o passar do tempo, foi chegando uma monotonia, a
relação caiu em uma rotina. Não éramos mais o mesmo casal apaixonado de antes.
Por outro lado,
as contas estavam em dia. Tinha um emprego público. Servidor público concursado
com orgulho, mas a relação já havia desgastada.
Custei a
acreditar, tudo indicava que seguiríamos, naquele ritmo, até o final feliz. Mas
a nossa vida não é um conto de fadas. Me via novamente como um sapo, não era
mais o princípe encantado. A princesa não me reconhecia mais na aparência de
sapo. Tão pouco passava por sua cabeça beijar um sapo. O encanto havia passado.
Suspeitei que
ela estivesse saindo com outro cara. Como eu queria estar errado. Logo,
bisbilhotei, aqui e ali, instalei arquivo espião no computador, coloquei camêra
de video pela casa, entrei em paranóia.
Aparentemente,
nossa vida continuava normal. Todo final de mês recebia meu salário, pagava as
contas. Mas, já não fazíamos mais sexo. Notei, também que ao mesmo tempo que o
interesse sexual da nossa relação minguava, ela se cuidava mais de si, estava
cuidando da saúde, alimentação balanceada, exercícios físicos, coisas que não
fazia; passou a usar mais maquiagem, estava mais bonita.
Na época, estava
lotado na delegacia de repressão à narcóticos. Estávamos na cola de um
traficante de cocaína. Seis meses de investigação. Levantaram todas as provas.
Estavam esperando o dia certo para colocarem as mãos nele.
Por isso, nos
deixaram de tocaia, no esconderijo do traficante, uma bela casa em um bairro
nobre da cidade. Então, literalmente, a casa caiu, em cima da minha cabeça. Não
segurei o rojão. Foi um impacto forte, fiquei sem chão. Maria Laura estava
dando para o cara. Era a minha mulher. Puta que pariu.
Eu não
acreditava, mas meus olhos observaram, com aquele maldito binóculo de última
tecnologia do raio que o parta. Fiquei nervoso, queria matar a bandida. Mas o
que ela estava fazendo ali? Quem sabe se a gente fizesse uma terapia de casal?
Até pensei, que poderíamos reconciliar depois de tudo isso, mas o punhal que
havia atingido , meu coração, agora se enterrava lá no fundo.
O sangue saía
pela boca, sinal de morte. Eles, então, se abraçaram e se beijaram com
intimidade. Foi a gota d´água. Abandonei o posto. Fui embora.
Aquela mesma
sensação ruim estava sentido de novo, agora. Era como se alguma coisa me
avisasse para tomar outro rumo, seguir por outro caminho. Mas, parecia que era
minha sina.
Seguia, em
passos firmes, pelo corredor. Uma porta se abriu e imaginei, já deveria estar
delirando, ter visto a modelo que teve seu corpo exumado; parecia me chamar,
querer me avisar sobre algo. Mas continuei em frente. Queria conversar com, uma
pessoa em especial, aquele homem.
As peças do
quebra cabeças não se encaixavam. Havia solicitado uma cópia de todos os
documentos, de entrada e saída, enfim, todo tipo de informação possível, levei
tudo para casa e passei a analisar todo aquele material. Documentos que
tratavam sobre a venda dos caixões. Uma coisa me chamou a atenção. Aliás,
várias coisas. Superfaturamento. Vendas casadas, caixões, flores e velório em
um pacote só.
Além disso,
outro detalhe, não haveria coelho, significava, enfim, era um dos nomes
vulgares do diabo. , em um 22 de abril, pelo fidalgo e comandante militar,
navegador e explorador de uma das nações mais poderosas do planeta, naquela
época, Pedro Alvarez Cabral, e suas caravelas; que embarcaram em 09 de março de
1500 , com muito mais de mil homens a bordo, entre marinheiros, técnicos em
navegação, escrivãos, cozinheiros, padres jesuítas, ajudantes, clandestinos,
além do diabo e o deus, do povo da Europa, e desembarcaram no litoral sul, do
que hoje é conhecido, como a Bahia.
Satanás, o
diabo, chegou ao Brasil, depois de enganar o ambicioso comandante das caravelas
da esquadra de Portugal, em nome do Rei. O valente e destemido nobre, de
madeixas louras, olhos claros como a água, desejava, como um ímpeto sexual, acima
de tudo, e isso o sufocava, essa obsessão em encontrar o caminho das Índias,
com isso, saciaria seu desejo, sua ambição;
poderia dominar o comércio do Oriente.
Deixando um
pouco de lado, nos livros, de História, Valdir Peres, se envolveu nessa linha
de raciocínio, sua cabeça não parava de pensar. Um turbilhão de pensamentos
surgiam, saturavam, uma enorme demanda, não conseguia mais concatenar tanta
informação, lhe faltou ar, menos oxigênio estava circulando em sua correte
sanguínea. Meu Deus, suplicava, como não pude observar isso?
Todos os caixões
haviam sido vendidos pela mesma pessoa, que segundo sua tese seria o assassino
em série. Tudo indicava que seu nome era Pedro Botelho, o nome que o diabo usou
para desviar a esquadra de caravelas, de Pedro Alvarez Cabral, do caminho das
Índias, e assim desembarcar no Monte Pascoal, assim foram denominados pelos
tripulantes portugueses, por estarem próximos da Páscoa, sendo assim, o Pé de
Cabra, tinhoso como só ele, desembarcaria como a estrela da manhã no sul da
Bahia.
Portanto, não
haveria data melhor para que o diabo, tomar posse do que se achava dono.
Consta, que teria sido Pedro Botelho, o fidalgo português, o cafuçu
esmolambado, mequetrefe mofento, com suas mandingas e feitiçarias, que teria
oferecido os adereços, os espelhinhos, os malditos espelhinhos que os
portugueses deram ao índios, que não tinham consciência, alguma, da maldade que
os brancos traziam consigo em suas caravelas do além mar.
Com tais
adornos, os espelhinhos, conseguiu, aquele que desvia, o cramulhão dos quintos,
diante da inocência dos nativos, e com esta artemanha, digna do Tição que é, o
encardido lá de baixo, pai da mentira; conseguiu pelo brilho de um reflexo de
um sorriso e com um punhal escondido nas costas, simplesmente,com a maior cara
de pau, sem escrúpulo algum, como roubar doce de uma criança, de lhe iludir e
de lhes passar a perna. Para os amaldiçoarem para o resto de suas vidas e de
suas gerações futuras.
Capítulo 16.
Pedro Botelho
sabia que Valdir Peres estava no seu encalço. Aos poucos, parecia ter
consciência dos seus atos, seus sentimentos mais íntimos, aqueles que pareciam
escondidos, com receios, o medo, de descobrir a verdade. Parecia que queria
viver em um mundinho, onde tudo se encaixava, tudo estava certo, como um
seriado de televisão.
O maldito
descobriu tudo. Como é que um bosta como aquele poderia ter sacado tudo? Puta
que pariu. Mas que merda. E agora? O que vou fazer? Esse merdinha vai estragar
tudo. Não, isso não. Não pode ser. O que vão pensar de mim? Como assim? Eles
vão acabar comigo. Vão colocar na internet, vão falar que eu sou um assassino!
Eles não podem
fazer isso. Vão acabar com a minha vida. E agora? Eles não podem descobrir.
Não, isso não. Onde vou enfiar minha cara? Vou passar a maior vergonha! As
pessoas não vão me entender. Eu matei, eu sou um assassino, eu sei, mas eu
precisava vender, a porra, de um caixão. Era isso, não, eu não queria matar
ninguém, não era isso. Eu não sou um monstro!
Perdido em seus
pensamentos, um pesadelo que vivia, Pedro estava tenso, os músculos retraídos,
olhos arregalados, assustado, estava incomodado com aquilo, mas o que poderia
ser. Seria remorso? Ou apenas culpa mesmo? Por que estava sentindo medo?
"Inferno.
Que porra é essa? Sai da minha cabeça. Que inferno!...que pôrra, de maldito
inferno, caralho!"
Em meio a
escuridão de seus pensamentos. Largado com seus medos e angústias, o sentimento
de culpa, antes nunca sentido, parecia agora lhe corroer, parecia um maldito
homem arrependido. Maldição. Que pôrra é essa?"
Então, como se
do nada, surge, aparece como uma assombração. Incrível. Do nada aparece aquela
figura soturna. Diretamente de um filme de terror. Um susto do caralho. O medo
tomou conta de todos os seus sentidos.
"Puta que
pariu!"
O misterioso homem,
com um chapéu, que lhe cobria o rosto e uma capa preta, surgiu do nada, como se
bruxaria fosse, em meio a uma densa fumaça, que mais parecia uma neblina, um
nebulosa que envolvia, unicamente, aquela figura sinistra, ainda encoberto
pelas sombras, parecia vindas do fundo, o mais profundo, das trevas.
Capítulo 17.
Valdir Peres
sabia que Pedro Botelho era o serial killer. Aquilo tudo, essa revelação, lhe
ocorrera agora, estava tudo em sua cabeça, ficou por um tempo, amadurecendo,
destilando tudo, com cuidado, enfim, a luz no fim do túnel surgiu e lhe
desvendou o véu de mistério que cegava seus olhos e não lhe indicavam o caminho
que o levaria até o assassino em série.
Como se fosse um
anjo lhe soprando nos ouvidos. Talvez fosse essa a sensação que lhe ocorresse.
Ao mesmo tempo, sentia a nefasta presença do demônio, como naquele dia com
Maria Laura, que merda, ele estragou tudo aquele dia. A operação foi por água
abaixo. Ele abandonou o posto. Botou água no feijão. Ficou mal na fita. Teve
que se explicar na corporação. Disse que surtou.
"Não
esperava ver a Maria Laura lá, naquele love com o filha da puta de um
traficantezinho de cocaína, pôrra! Caralho! Eu sei que a relação estava
desgasada. O nosso casamento já tinha acabado fazia um tempão. Eu sabia disso.
Mas pôrra, Maria Laura, tinha que por chifre em mim?
Pôrra, e eu lá
sou capeta para ficar de chifre? Não era nada agradável. Caralho. Era a minha
mulher. A gente ainda estava casado. Falta de respeito. Como Assim? Maria
Laura, eu só queria entender por que?
Puta que pariu.
Mas além de fazer essa pôrra comigo. Me fazer passar por essa situação
constrangedora. Puta que pariu, Maria Laura. Tinha que ser com um filha da puta
de um traficante de cocaína? Tinha que ser um que seria preso depois de seis
meses de investigação? Puta que pariu. Caralho!"
"Como é que
é , que em sã consciência, eu, servidor público concursado, com um salário
garantido pro resto da vida. Poderia casar, ter filhos , sustentar a familia
com essa grana, era para o resto da vida. Então, olha só, tinha tudo, um futuro
brilhante pela frente. Tudo bem, mas como é que eu iria dizer lá na audiência,
na corregedoria, que eu surtei porque vi a Maria Laura".
"Eles vão
perguntar":
_ Quem é Maria
Laura?
Capítulo 18.
O misterioso
homem virou-se para Pedro, que ainda assustado, sem saber o que estava
acontecendo, o chão se abriu, seu corpo caiu em um abismo, nada mais fazia
sentido, estava descrente, sem esperança, desacreditado, cheio de culpa e
remorso, sentia-se desesperado, desamparado, como se lhe rasgassem a alma ao
meio.
_ Tenho algo
para lhe dizer. - Disse a sinistra figura gótica.
_ Eu lhe pedi 3
mortes. Você matou, com requintes de crueldade, cada um deles. Você foi
recompensado. Você vendeu 3 caixões para a família dos mortos. Você foi bem
mau.
_ Não, eu não
fiz isso! Não, não fui eu. Eu juro!!! - Gritou
Pedro se jogando aos pés, em meio a lágrimas, daquele cidadão vindo,
aparentemente das trevas.
_ Você ainda tem
coragem de negar? Ainda quer se posar de vítima? - Esbravejou o Senhor das
sombras.
_ Eu sou um
vendedor de funerária, eu não mato pessoas, eu juro! - Retrucou Pedro.
_ Concedi-lhe a
venda- Disse o misteriso - E depois outras vendas mais e lhe solicitei mais 3
mortes. O homem, então, com o rosto encoberto pelo chapéu, deu uma risada
cínica, logo completou : "e você os matou"!
_ Eu sempre
estive com você, ao seu lado, dentro de você. Eu estava lá, na sala do doutor
Petrônio, com você, por acaso, não se lembra do cheiro de enxofre?
Pedro, de uma hora
para outra, abandona aquele lado deplorável de sua mente, e fica ligado
naquelas palavras. Como assim? Do que ele está falando?
_ Você por
acaso, se lembra - disse um dissimulado e cínico interlocutor envolto em fumaça
e sombras - sobre aquela conversa sobre negócio lucrativo? Sobre a concorrência
ser baixa?
_ Era o meu
serviço, o meu trabalho, o que você está falando seu maldito? - Já começava a
se alterar novamente, ficando nervoso com aquilo tudo, uma raiva foi tomndo
conta dele, do seu espírito, de sua mente, de sua alma.
_ Você sabia que
não era um trabaho qualquer? Ou não? Achava que dinheiro dá e árvore? O Serviço
Funerário é prestado pelo poder público, não sei se é de seu conhecimento?
Trata-se do serviço funerário municipal. Um negócio ligado a morte. E temos
vários contatos. Molhamos a mão de funcionários do IML, de bombeiros, enfim,
molhamos a mão de todo mundo. Corrupção no serviço funerário.
Capítulo 19.
O prefeito tem
vontade de ser governador. Pretende sair candidato. Já venceu todas as
resistências no seu partido, também manteve os empresários que lhe apoiaram na
eleição.
Articula, o
político, debaixo dos panos, uma greve da polícia. Visando o caos , se beneficiando da desgraça que irá cair de
paraquedas no colo do governador, que vai ter que acertar suas contas com o
eleitorado".
_ O prefeito,
puta que pariu, o que eu tenho a ver com isso, sou apenas um vendedor, mas ,
puta que pariu, ele quer ser governador?
_ Meu filho,
quando você está indo com o leito, o prefeito, já foi e voltou com o queijo
fresco, fatiado e oferecendo aos seus eleitores - Disse o tinhoso. - Filho - falou
com imenso carinho - Só peço mais uma morte.
Capítulo 20.
Valdir Peres
teve suas últimas imagens registradas pelo circuito interno de video. Mas estas
imagens nunca chegaram até a polícia, que estava em greve ou tão pouco foi
vista por alguém. Assim não houve registro algum do acontecido.
Em um dos
monitores, que poderiam ser conferido na sala de videos, perecebe-se a
movimentação de um homem, está agitado, andando apressado, não há como, pelas
imagens, identificá-lo, mas tudo indica ser o investigador da polícia, Valdir
Peres.
Ele vai em
direção ao refeitório, ao abrir a porta e adentrar no recinto, mal consegue
respirar, uma falta de ar, sente em seus pulmões, os olhos se arregalam, sente
umaforça lhe empurrando para trás, percebe, pelo canto do olho, o sangue
espirrando, em profusão, de seu pescoço.
Pedro Botelho o surpreendeu com um golpe rápido, seco e certeiro. Uma faca de
cozinha rasgou-lhe a garganta, ceifando sua vida.
Epílogo.
_ Você tem que
entender que quem contrata o nosso tipo de serviço, é por que perdeu algum ente
querido, entende?
A pessoa morreu.
As pessoas morrem mesmo, a vida é assim mesmo, mas é muito triste. Os que
ficam, têm conhecimento, sabem muito bem o que é isso. Nessa hora, ninguém tem
cabeça pra discutir preço, se vai comprar essa ou aquela boda de flores, sabe?
É um momento de
profunda dor, não vale a pena esquentar a cabeça. Por que parece mesmo é que o
mundo está caindo sobre a sua cabeça, empurrando seus ombros para baixo. É a
maior roubada!
Logo, após essas
palavras, estampou o sorriso no rosto. Ajeitou os óculos escuros, ajeitou o
terno, aí fazemos o nosso negócio. É aí que surge uma grande oportunidade para
se alcançar o sucesso.
FIM